sábado, 2 de novembro de 2013

DEFINITIVAMENTE SOU UM INQUILINO

Resolvi fazer uma viagem ao passado, em minha casa, da qual pago aluguel, conseqüentemente sou um inquilino, e viajei nas memórias mais recônditas de minha vida.

Comecei minha jornada no "dentro" de papai. Era um ambiente tranqüilo, tinha milhares de "amigos" a minha volta, mas de repente, vi-me sendo despejado e indo morar uma nova residência, não sem antes brigar com milhões de concorrentes pela nova casa, diga-se de passagem meio ovalada, mas novamente quentinha e aconchegante.

Repentinamente começou um burburinho uma agitação e me vi desdobrando em dois, depois quatro, e assim sucessivamente e, sabe la Deus como, me transformei e me transformei, e me transformei. De repente tinha pés, mãos, braços, cabeça, mas era um ambiente quentinho, gostoso, agradável, até carinhoso. Em dado momento me vi puxado para fora. Um ambiente frio, muito claro, cheio de criaturas estranhas. Mais uma vez fui despejado.

Agora eu era alguém em mundo estranho. Me lavaram, me arrumaram e me entregaram para uma moça muito simpática, de um olhar meigo e carinhoso, vi pessoas estranhas, tinha um que não parava de babar em mim. Pensei, agora eu fico aqui, ta tudo tão bom. Que nada...Dois dias depois era despejado daquele lugar chamado hospital.

Fui levado para um local diferente, uma especie de caixa grande, cheia de outras caixas. Me colocaram em um lugar confortável onde eu passei os melhores anos da minha vida, até ouvir que teria que sair daquele lugar, chamado berço, pois segundo as pessoas ja estava grande e deveria dar lugar a mais um. Despejado de novo!

Ganhei uma nova caixa, onde pensei esta será só minha. Até o dia que disseram que eu deveria sair dela e subir para o andar de cima, era um beliche. Outra vez despejado.

Comecei a estudar, primeiro o pré-zinho, só festas e brincadeiras, quando de repente, pum La estava eu sendo de despejado, agora para o jardim de infância, que também, não durou muito, novo despejo e ai entrava no ensino fundamental. Até que nos primeiros oito anos foi tranqüilo. Ai já me vi sendo despejado novamente, agora para o ensino médio.

Mais três anos de paz e sossego e por fim, o nível superior, mas sendo despejado do ensino médio. Vida de inquilino não é fácil.

Achava que no nível superior seria tudo belezinha, mas que nada, simplesmente quando terminei o nível superior veio  o pior dos despejos, despejado de casa por pai e por mãe, afinal segundo eles eu já estava formado, tinha que construir a minha vida. Despejado de casa, ora vejam!!!

Minha primeira casa fora de casa, não da para chamar de casa, era um apartamento tão pequeno, que quando o sol entrava eu tinha que sair e ai fiz um acordo com ele. Ele ficava de dia com o apartamento e eu de noite. Equilíbrio perfeito.

Meu primeiro emprego uma beleza, um Box só para eu trabalhar, até que veio uma crise e fui despejado, eu e mais 20 vinte inquilinos da empresa..

Negociei com o sol para um usar um pedacinho do ape, enquanto não resolvia o que fazer. Sem trabalho e sem dinheiro, o dono veio pedir o apertamento. Me doeu dar a noticia para sol, mas parecendo saber o que iria contar, se escondeu entre nuvens, enquanto eu tirava minhas coisas, minhas parcas coisas de dentro do cubículo.

Vida de inquilino não é fácil, minha sorte tinha que mudar.

Consegui um quartinho na casa de uma viúve esotérica, meio bruxa, meio louca e ai ela me disse: - Tua sorte vai mudar inquilino, e para muito melhor. Aqui oh, faz essa fezinha na mega-sena para esta velha que não pode sair de casa.

E lá me fui para lotérica. Fiz o jogo dela nao sem antes dar de cara com um bilhete novinho em folha e do concurso que iria correr, peguei e guardei comigo, fazendo todo o silencio do mundo.

A noite mal podia esperar pra ver o resultado e, pasmem meus amigos, o bilhete tava premiado....20 milhões de reais!!!

Contive minha emoção, sorri amarelo para velha, que me devolveu o sorriso dizendo: - eu não falei??? Quase tive um troço. A velha sabia.

Sai correndo para rua, tinha que passar a noite fora até abrir o banco. Ao atravessar a rua, atônito pelo premio, não vi um carro vindo em alta direção que me pegou em cheio. Cai feito uma jaca podre no chão todo arrebentado.

Nos meus devaneios morto-vivo, pude ver a velhinha mexendo nos meus bolsos e pegando o bilhete e sorrindo. Inquilino da vida, estava sendo despejado da vida, e o pior, pobre. Ah velha um dia te pego!


Vida de inquilino não é fácil!!

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